É mesmo “só” Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)?
O TDAH é um transtorno do neurodesenvolvimento que causa prejuízos na vida pessoal, acadêmica e profissional de muitos indivíduos. Os principais sintomas deste transtorno são os déficits cognitivos, principalmente na memória, no sistema atencional e nas funções executivas. No passado, o diagnóstico era realizado através de escalas comportamentais, porém, atualmente, utilizamos tanto as escalas como os testes padronizados neuropsicológicos para avaliar o desempenho cognitivo, pois as escalas podem ser respondidas de maneira tendenciosa.
Uma dúvida que muitas pessoas têm: "Todo TDAH" é hiperativo?" A resposta é NÃO. Na verdade, existem três subtipos de TDAH: combinado (déficit atencional + hiperatividade/impulsividade), predominantemente desatento (déficits atencionais se sobressaem) e predominantemente hiperativo/impulsivo (hiperatividade/impulsividade de sobressaem).
Outro ponto neste artigo que quero trazer como um alerta é sobre as comorbidades existentes no TDAH, sendo que uma das mais comuns é com o Transtorno Específico de Aprendizagem (Ex.: Dislexia). A Dislexia se apresenta com sintomas de dificuldades na aprendizagem da leitura e escrita. Entre os principais sintomas estão o atraso na alfabetização, que pode perdurar por anos, principalmente quando não diagnosticada precocemente, o que pode ter como consequência a chegada na vida adulta sem uma leitura e escrita fluente.
O problema da existência de comorbidades não diagnosticadas é que as intervenções não serão realizadas corretamente. Já recebi pacientes em meu consultório que receberam diagnóstico de TDAH na infância e seguiram no ensino fundamental II sem aprendizagem da leitura e escrita. Ou seja, os pais e professores acreditavam que era o TDAH que causava esse prejuízo, quando na verdade era a Dislexia. Por sua vez, as escolas públicas, não possuem uma equipe preparada para identificar e encaminhar para tratamento. Desta maneira, alguns indivíduos, chegam no ensino médio nesta situação.
Outro agravante é que o SUS também não é eficiente para atender toda a população que apresenta transtornos do neurodesenvolvimento como TDAH, Dislexia, Deficiência Intelectual, Autismo entre outros. Quando oferecem tratamento são pouquíssimas horas, o que não é suficiente e muito menos eficiente para tratar esses transtornos, na realidade só ficam "enxugando gelo". Nestes casos, famílias que apresentam uma condição financeira um pouco melhor, recorrem aos convênios médicos.
O alerta é o seguinte: o TDAH não causa prejuízos tão severos na leitura, escrita e matemática. É importante que haja uma investigação mais aprofundada dos sintomas que a criança apresenta, recorrendo a uma avaliação cognitiva, de preferência com uma equipe multidisciplinar composta por neuropsicólogos, psicopedagogos, neuropsicopedagogos, fonoaudiólogos, psicólogos e neuropediatras.
Tenha em mente o seguinte, se a criança chegar ao final do segundo ano do ensino fundamental I com muita dificuldade na alfabetização será necessária ajuda profissional para uma avaliação diagnóstica, porque se essa criança seguir para o ensino fundamental II sem ler e escrever, os prejuízos serão imensos e recuperar esse atraso é praticamente impossível, uma vez que todas as disciplinas dependem da aprendizagem básica da língua portuguesa e matemática. Sendo assim, não espere que os prejuízos se acumulem, peça ajuda o quanto antes.
* A autora é Neuropsicopedagoga e Psicopedagoga Clínica, Pedagoga com Habilitação em Administração Escolar, Especialista em Intervenção ABA no Autismo e Deficiência Intelectual, Professora/Formadora em Educação Inclusiva, além de Coach Pessoal, Profissional e Líder Coach pela Sociedade Brasileira de Coaching e Analista Comportamental Disc pela Gestor Performance. Possui experiência de mais de 20 anos na área, atuando no âmbito escolar, clínico, empresarial. Contatos: E-mail: crissaraguci@hotmail.com. Instagram: @neuropsicocristianesaraguci. Facebook: @neuropsicocristianesaraguci. Site: www.cristianesaraguci.com.br
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